domingo, 26 de dezembro de 2010

Bagão Félix em entrevista: «Benfica tem de voltar a meter medo»

Bagão Félix é uma figura de proa no universo benfiquista. Por mais de uma vez apontado como provável candidato à presidência do clube, nunca avançou nesse sentido. Digamos que é a eterna sombra do poder encarnado, a voz que todos escutam atentamente. Apenas uma vez foi vice-presidente de Assembleia-Geral do clube da Luz, entre 1992 e 1994.
Esta entrevista de fim de ano é, pois, uma viagem entre o futebol e a política, entre o Benfica e o país social, sempre dominada por um denominador comum, a crise, que atinge a sociedade portuguesa e a Europa em geral, mas que não passa ao lado do clube da águia.

- Alguma vez pensou ser presidente do Benfica?
- Pensei, pensei...Cheguei a encarar essa hipótese. E tinha vontade. Acontece que preciso de trabalhar para ganhar o meu dinheiro, não tenho bens para além do meu trabalho e, em Portugal, infelizmente, isso inviabiliza uma candidatura. Na altura em que pensei nisso, a questão colocou-se assim.

- Mas tem seguido atentamente o percurso desta Direcção e o da SAD? No fundo, o percurso de Luís Filipe Vieira.
- Sim, tenho. Acho que o Luís Filipe Vieira é um presidente que merece ser considerado, desde logo porque tomou conta do Benfica numa situação dramática. Os benfiquistas devem estar reconhecidos. O Benfica voltou a ganhar credibilidade institucional e um valor patrimonial decisivo, que é o da estabilidade. Isso é fundamental e eu estou-lhe reconhecido como benfiquista que sou. Do ponto de vista financeiro também arrumou a casa.

- A diferença entre o Benfica, dentro das quatro linhas, da época passada para esta, tem sido grande...
- Lá está um aspecto que penso que pode ter de ser modificado e até posso estar a ser injusto, porque como não estou dentro da Direcção, não sei a quem atribuir mais responsabilidades, se à direcção, se à comunicação social, ao jornal A BOLA por exemplo, ou se à má gestão de aspectos relacionados com o plantel. É que constantemente, seja no princípio da época, seja no fim ou no defeso, não há um santo dia em que não haja um jogador apontado ao Benfica. Se eu fosse jogador do Benfica estava sempre em polvorosa, sentia-me sempre instável. O Benfica tem de parar com isso, porque destabiliza. Estamos a falar de jovens jogadores, com muito dinheiro, que todos os dias, todos os fins-de-semana, são escrutinados como ninguém, e a quem não se perdoa nenhum erro. O David Luís está a jogar menos? Pois, coitado, todos os dias há notícias de que sai para ir ganhar o triplo; o Cardozo a mesma coisa, o Luisão e por aí adiante. Psicologicamente o jogador vê-se envolvido numa lógica e num contexto muito melindroso e acho que o Benfica se ressentiu disso esta época.

- Isso, só por si, não explica tudo...
- Pois não. Por isso penso que o Benfica este ano errou na pré-época. Em primeiro lugar porque, aparentemente, contratou jogadores, que até são razoáveis, para lugares onde não precisava e não comprou jogadores para lugares onde sabia que ia precisar. Toda a gente sabia que Ramires e Di Maria iam embora. E não se percebe como o Urreta foi dispensado ao Desportivo da Corunha. Em segundo lugar, porque acho que o Benfica entrou num jogo decisivo do ponto de vista psicológico ainda em calções de banho, no jogo com o FC Porto, para a Supertaça.

-Este afastamento da Liga dos Campeões foi frustrante...
- Foi sem dúvida decepcionante. O Benfica ficou muito aquém do que esperávamos e das expectativas criadas pelo treinador Jorge Jesus, que apoio bastante, mas acho que se excedeu, entusiasmou-se e falou a quente, com a adrenalina toda, ainda que com boas intenções. Não se pode falar logo a seguir à conquista de um troféu, pois pensamos que tudo é possível, só que depois arrefecemos e percebemos que ainda temos de crescer muito. E o Benfica, a nível internacional, ainda tem de crescer muito. Isso verificou-se nestes jogos da Liga dos Campeões. Podíamos ter ido aos quartos-de-final, tínhamos equipa para isso. O Benfica tem de comer muita côdea para ter um estatuto internacional que meta medo. Recordo-me de quando o Benfica chegava e era como os adversários jogarem com o Barcelona ou o Manchester United, criava logo um desconforto. E é esse desconfortoque o Benfica tem de voltar a conquistar. O Benfica tem de voltar a meter medo!


A Bola

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