segunda-feira, 12 de julho de 2010

Roberto: solução ou problema?

Nos tempos que correm, em que a crise é cada vez mais evidente, custa perceber como é que os principais emblemas nacionais conseguem comprar futebolistas por verbas entre os 7 e os 10 milhões de euros. Se estivéssemos a falar de clubes ricos, cujas sad's tivessem lucros consideráveis, ainda entenderia esses investimentos "loucos". No entanto, todos sabemos, as contas de Benfica, FC Porto e Sporting são tudo menos um "mar de rosas". E escusam de me tentar explicar, através de complicadas manobras de engenharia financeira, que o caso não é bem assim. Podem continuar a assobiar para o lado e a negar as evidências mas, o mais certo - a manter-se este tipo de actuação - é que um dia a coisa "rebenta".

Mas, quando se gasta uma soma avultada num jogador há, antes de tudo, que equacionar o valor futebolístico do atleta. Convém ter em conta o seu passado, o rendimento por onde passou, a margem de progressão, a possibilidade de ganhar dinheiro numa venda futura e ter a certeza que a sua inclusão no plantel é essencial. Ora, é exactamente fazendo esse tipo de avaliação que não consigo entender como é que o Benfica resolveu pagar 8,5 milhões de euros pelo guarda-redes espanhol Roberto.

Eu sei que, nesta altura, é fácil colocar em causa a validade da operação encarnada, pois o guardião, logo no primeiro teste mais a sério, teve dois deslizes, o primeiro dos quais se engloba na categoria dos frangos. Contudo, posso garantir, este texto estava programado há muito. Só não veio a público antes porque, devido ao Mundial, estive "sintonizado" na África do Sul.

Por princípio tenho dificuldade em aceitar que um guarda-redes possa custar tanto dinheiro. No futebol, sempre assim foi e será, os elementos mais caros são os avançados, os jogadores que marcam golos, os artistas que fazem a diferença. Como em tudo, no entanto, existem excepções. Gastar uma boa maquia por gente como Buffon, Casillas, Cech ou Júlio César (o do Inter) parece-me adequado, face ao seu rendimento ao longo dos anos. São "keepers" com provas dadas.

O caso de Roberto começa antes de o próprio ser escolhido. Jesus é o responsável e, melhor que ninguém, deve saber o que faz falta à equipa. Porém, abdicar de Quim quando o internacional português fez a sua melhor temporada na Luz - contribuindo para a conquista do título - é bastante discutível. O treinador quer um titular claro, que garanta pontos ao conjunto. É uma ambição legítima. Só tenho dúvidas é que com Quim isso não estivesse contemplado. Afinal de contas, quantos pontos perderam os encarnados por causa do guarda-redes na época passada? E se o minhoto era assim tão falível então como se justifica que ele fosse titular absoluto no Nacional? E jogou a final da Taça da Liga, quando o titular vinha sendo outro, porquê?

Jesus nunca escondeu que não apreciava Quim. O afastamento estava há muito agendado e só não aconteceu mais cedo porque o guarda-redes mostrou, em campo, ser o melhor do plantel. A força que o técnico fez para que as águias contratassem Júlio César ao Belenenses comprova a sua intenção. Aliás, ele bem se esforçou por tentar "puxar" pelo brasileiro. Contudo, este - a exemplo do que sucedeu com Moretto anos antes - não se deu bem com a passagem de um clube mediano para um obrigado a vencer. E, pior, não conseguiu conviver com uma titularidade prevista "a priori". Curiosamente, finda a temporada, Jesus disse que Júlio César ainda "era um miúdo que tinha de aprender". Aceito a observação, só não entendo é como é que alguém considera normal utilizar a Liga Europa para "ensaios"...

Regressemos a Roberto, o menos culpado de tudo isto. Era fácil de prever que o espanhol iria estar debaixo da atenção dos adeptos e que, desde sempre, as suas prestações iriam ser escalpelizadas ao pormenor. Só não se previa é que, à primeira, se espalhasse ao comprido. Agora, se não se recompõe depressa, o Benfica vai ter um problema complicadíssimo para resolver.

PS - Não sou nada dado a bruxedos e coisas do género mas, sinceramente, acho que alguma força oculta resolveu importunar a carreira de Quim. Ser dispensado do Benfica depois de ter sido totalista no Nacional é incompreensível (mais ainda quando os seus dois suplentes continuam...); não fazer parte do lote de três guarda-redes para o Mundial da África do Sul foi uma injustiça tremenda (alguém consegue dizer que Daniel Fernandes já fez mais, nos clubes ou na Selecção, pare merecer estar à sua frente?), mas sofrer uma lesão grave (que o obriga a paragem de cerca de 6 meses) logo num dos primeiros treinos no Sporting de Braga é... demais!


Fonte: Record (Crónica de Luís Avelãs)

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